segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"Aqueles que passam por nós, não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós!" 
                  Antoine de Saint-Éxupery





 "Hoje foi mais um daqueles dias em que apareceste sorrateiro na minha mente, como quem chega de leve para fazer uma surpresa e nos vai enchendo de beijos suaves quando já adormecemos à espera de nos acordar. Hoje foi mais um daqueles dias em que a saudade bateu forte no coração e, que como em tantos outros momentos passados na tua ausência, fez escorregar sobre o meu rosto, lágrimas de solidão, de revolta, de raiva, de desespero. A dor é tanta que nem sei muito bem como te escrever. Será que ouves os meus pensamentos? Será que ouves o grito da minha dor? 
   Relembro com carinho e saudade aquele momento em que me foste visitar a Portugal, tinhas acabado de chegar de Dublin, nem tive tempo de te dizer o quão ficavas tão bonito com essa tua farda de militar, não tive tempo sequer de te mostrar o quanto enchias os meus dias de felicidade! Alto, moreno, aquele olhar profundo que tinhas quando olhavas para mim, aquele mar de um azul de um céu infinito, adorava as tuas mãos, tudo porque tinhas a mania de guardares as minhas dentro delas nos dias frios desse Inverno, como eu achava tão romântico essa tua maneira de me protegeres. O facto é que fazias com que me sentisse mesmo uma criança de tanto me protegeres.
   Nem tiveste tempo de me ter para sempre, nem me deixaste ter tempo para NOS termos para sempre. Se ao menos pudesse fazer com que voltasses, se ao menos por um segundo que fosse pudesse beijar de novo esses teus lábios, olhar de novo nos teus olhos e fazer com que um "Não vás" te obrigasse a permanecer para sempre junto de mim. 
   Mudei hoje as flores da tua campa, ainda lá tens aquela bandeira do exército que o Tomás colocou junto da tua "eterna saudade"... 
   Sim, eu sei que me disseste que caso não voltasses não quererias flores, visto que elas só vivem enquanto estão no solo, mas não resisto, de uma certa maneira, acho que as culpo pela tua partida, acho que, de uma certa forma, cada uma delas leva consigo um pedaço da minha saudade, da minha dor, de mim, de nós, para junto de ti.
   É horrível saber que nunca mais te terei, e agora? Nós tínhamos uma vida, tínhamos um mundo, escusado será dizer que levaste tudo contigo. Está a aproximar-se o dia, não está? Eu sinto, aquele dia em que já não te sentirei mais aqui, aquele dia em que me irás abandonar de vez, aquele dia em que me obrigarás a olhar-me no espelho e a fazer algo por mim. Não sei se sou capaz, ainda é muito cedo, compensa-me apenas o facto de já não estares aqui e fica mais um pouco...."

     - uma das cartas escritas por Camila a Rafael, já depois da sua morte.
   Um Pedaço de Noz - Sandra Costa

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